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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Um Senhor Centenário

Ele é de origem humilde, se dirige aos maloqueiros e sofredores e, talvez por isso, arraste multidões. Seus fãs são inúmeros e esse ano todos estão felizes porque ele completa 100 anos!




“Ih, lá vem o Pelegrim falar do Corinthians dele!” devem estar pensando os amigos leitores! Ledo engano! Estou me referindo àquele que canta e encanta de Vila Esperança ao Jaçanã, o grande Adoniran Barbosa.



Na verdade, Adoniran Barbosa é o nome artístico de João Rubinato, que além de cantor e compositor era ator e humorista.



Entre os personagens interpretados está o famoso Charutinho, que rendeu apelido ao nome artístico de Adoniran. Filho de imigrantes italianos, Adoniran, na verdade, nasceu em Valinhos-SP, aos 6 de agosto de 1912. Porém, para poder trabalhar legalmente, para ajudar a humilde família, seus documentos foram adulterados para nascimento em 1910 e, por isso, comemora-se o centenário dele.



E só pra não dizerem que eu não falei nada sobre o outro centenário que comemoramos esse ano, vejam essa composição de Adoniran:



como é bom ser alvi-negro

ontem, hoje e amanhã

respirar o ar mistura

do Tietê a Tatuapé

lá no alto a velha Penha

Da Anchieta e Bandeirantes

Ver São Jorge lá na lua

Abençoando a fazendinha

Onde mora um gigante

Tem igreja e tem biquinha



Coríntia, Coríntia

Meu Amor é o timão

Coríntia, cada minuto

Dentro do meu coração



Belém, Vila Maria e Moóca

E São Paulo extensão

Mogi, Guarulhos, Itaquera

Tudo vibra coringão

É o coríntia de nóis tudo

É Paulista é campeão



Mas eu não posso ficar nem mais um minuto falando sobre esse amigo do Arnesto que mora no Brás. Se o senhor não tá lembrado, dá licença de contar. De tanto levar “frechada”, de tanto dar volta em volta da “lâmpida” pra se esquentar. O mestre falou que hoje não tem vale, não! Me vali de fragmentos dos maiores sucessos de Adoniran Barbosa apenas para citar que um artista desse quilate, morreu pobre. Muito por opção de vida, é verdade.



Mas o principal legado que Adoniran nos deixou, em uma época em que o samba era discriminado e era comum sambistas incrementarem suas composições, usando a segunda pessoa e falando de coisas belas, Adoniran arrepiava o Prof. Pasquale, usando e abusando de licenças poéticas e de palavras, além das já citadas acima, como “falo” (falou), “te” (até), “nóis” (nós) entre outras, expondo o jeito paulistano de falar e, além disso, trouxe ao grande público assuntos como despejo na favela, moradores de subúrbio que precisam pegar trem para se deslocar, enfim! Popularizou de vez o samba paulista.



E, em época de carnaval, paramos para refletir a seguinte questão: quem dera nossas vidas fossem tão igualitárias e sociais como um bloco de carnaval, onde entra quem quer, vai fantasiado se quiser, segue o bloco quem quer e no final todos se divertem!